sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Conto - O pintor e o poeta

Certo dia, estando um pintor com o cavalete a pintar uma paisagem encantadora e relaxante quando se abeira um poeta, olha para o trabalho do pintor e diz:
-Pintor que sol mais estranho que estais a pintar, a cor, e a sua forma como se fosse uma elipse em espiral.
-O sol quer-se como o fogo, quente e alegre, quente para nos aquecer o corpo, alegre para satisfação da nossa alma.
-Esse céu tão estrambalhado com nuvens de cor impossível, o céu é azul celeste com nuvens alvas, como o mar azul-marinho com a espuma branca das ondas que transmite paz ao nosso espírito e onde descansamos o olhar, e essas aves que se parecem com nada, deveriam ser como anjos esvoaçando num voo perfeito e coordenado.
O pintor ouvia as palavras do poeta, não as ignorava mas fingia que as não ouvia, mas notava-se que os traços suaves e lentos das suas pinceladas tornaram-se mais rápidos e profundos.
-E esse rio que parece que corre ao contrário, do mar para as montanhas e de uma cor opaca que sugere nem ter fundo.
-O rio tem águas cristalinas e fundo, onde a areia se conjuga com seixos de mil cores e peixes de cor garrida nadando em círculos tranquilos.
O pintor mantinha-se calado no seu mundo dos pincéis e tintas, abstraindo-se, parcialmente das palavras poéticas, e mergulhava no seu mundo da cor.
-Que prado tão informal tão fora do normal, os prados são verdes, viçosos, e se possível, os da manhã com as suas gotas de orvalho, que com o brilho do sol resplandecente reflecte o arco iris no azul celeste como fundo.
O pintor de tanta crítica tenta esconder o seu nervosismo no arrumo dos seus utensílios.
O poeta de voz calma, pausada e colocada perguntou:
-Diz-me bom homem, quem te disse que sabias pintar?
O pintor retorquiu e respondendo com o mesmo tom:
-E tu poeta, quem te disse que sabias de poesia?
A pintura está para a poesia como a poesia para a pintura.
Uma poesia é uma pintura, e uma pintura não passa de poesia.
Ambas se conjugam, ambas vivem de mãos dadas.
Embora sejam diferentes elas são gémeas verdadeiras,
Liberta a tua alma e coração
Dá asas à tua imaginação.
É assim que os cegos a vêm, e os surdos a ouvem!


Tento dizer que é através da poesia que os cegos vêm a pintura, e os surdos através da pintura ouvem a poesia.


Autor: João Loureiro, candidato de RVCC nível secundário.
Fevereiro de 2012

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